domingo, 16 de dezembro de 2007

Poema(só) para as férias

LIBERDADE


Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...


Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
a distinção entre nada e coisa nenhuma.


Quanto melhor é quando há bruma
esperar por D. Sebastião,
quer venha ou não!


Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
flores, música, o luar, e o sol que peca
só quando, em vez de criar, seca.


E mais do que isto
é Jesus Cristo,
que não sabia nada de finanças,
nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa


Votos de boas Férias! Até para o Ano...



quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Quase Natal...

Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sitio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois : somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Só hoje...

Deixo aqui esta mensagem, pública e bem visível, aos alunos ( e foram alguns...) que enviaram comentários e mesmo algumas questões às quais, infelizmente, não respondi, porque ficaram "escondidos" e só hoje os encontrei. Já lá estão!
O lapso terá sido do "sistema" ou meu?? Nunca irei descobrir...
De qualquer modo, fica assinalado o vosso contributo!!

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Para amenizar...


Já que o poema de Almeida Garrett suscitou tanto interesse, publico um outro para amenizar o estudo:

Este inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?


Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?


Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...


in Folhas Caídas

(Imagem: o Beijo de Klimt)

sábado, 1 de dezembro de 2007

Dia da Restauração


(A propósito do Frei Luís de Sousa...)


Hoje, dia 1 de Dezembro, comemora-se a "restauração" da independência de Portugal, após 60 anos de domínio castelhano(de 1580 a 1640).

A acção do Frei Luís de Sousa decorre durante esse período.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Atenção!

O Frei Luís de Sousa foi escrito no século XIX por Almeida Garrett, mas a acção decorre no século XVII.

Não confundam, por favor!!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

"Recado" aos meus alunos...

À medida que forem consultando o blog, gostaria que deixassem um comentário. Ajuda-vos a prestar mais atenção à leitura e ajuda-me a mim. As apreciações ao nosso trabalho são sempre importantes para continuarmos!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Frei Luís de Sousa: Tragédia ou Drama?

O Frei Luís de Sousa é uma tragédia porque:

  • as personagens desafiam o Destino (hybris): Madalena casa com Manuel de Sousa Coutinho sem ter a certeza de que o primeiro marido está morto e Manuel incendeia o seu palácio para não receber os governantes castelhanos;
  • o sofrimento e a aflição das personagens vai-se acentuando, à medida que a acção progride (clímax e pathos) e atinge também os “inocentes” (Maria, a filha);
  • há uma mudança repentina na acção (peripateia –“peripécia”), desencadeada por alguém que vem de fora, sucedendo o “reconhecimento” (anagnorise): o Romeiro é identificado como D. João de Portugal, o primeiro marido de D. Madalena;
  • a partir deste momento, é impossível evitar a “catástrofe”(katastrophé): as consequências terríveis que atingem todos os que estão próximos de quem desafiou o Destino;
  • Maria morre e os pais “morrem para o mundo”, vão para o convento;
  • a catharsis (purificação) é feita pelo despertar no público de dois sentimentos: o terror e a piedade( referidos por Almeida Garrett na Memória ao Conservatório Real);
  • Telmo e Frei Jorge têm um papel semelhante ao do Coro das tragédias gregas, tentando confortar as personagens.



O Frei Luís de Sousa é um drama romântico porque:

  • a acção decorre numa época histórica de resistência, de afirmação e defesa do nacionalismo (século XVII, perda da independência, ocupação castelhana);
  • remete para a crença no mito do Sebastianismo: D. Sebastião tinha “desaparecido” em Alcácer- Quibir e o seu regresso era a esperança que restava para a recuperação da independência de Portugal;
  • referências várias a Camões, poeta de expressão do patriotismo;
  • afirmação constante do nacionalismo, com a rejeição da presença dos castelhanos em território português;
  • crença no regresso do morto-vivo, “personagem” de inspiração medieval ( D. João de Portugal);
  • expressão hiperbólica de sentimentos, de estados de alma, frequentemente contraditórios e caóticos;
  • crença em agoiros, superstições, simbologia premonitória dos sonhos (Madalena, Maria e Telmo);
  • o cristianismo: Madalena e Manuel encontram o conforto na crença em Deus e na ida para o convento, em vez da morte violenta das tragédias;
  • uso da prosa ( e não o verso, como era habitual na tragédia);
  • divisão em três Actos ( e não os cinco da tragédia);
  • não existe unidade de tempo nem de espaço: a acção não decorre em 24 horas nem no mesmo lugar;
  • linguagem que exprime os estados de espírito das personagens: apóstrofes, frases exclamativas e interrogativas, frases inacabadas (com reticências), hipérboles……

Memória ao Conservatório Real

Tópicos da Memória ao Conservatório Real de Almeida Garrett:



  • os factos históricos portugueses são marcados pela simplicidade;


  • essa simplicidade é solenemente trágica e «moderna» (romântica);


  • na história do Frei Luís de Sousa, há simplicidade trágica, mas há, também, o espírito do Cristianismo que suaviza o desespero das personagens: em vez de uma morte violenta, “morrem para o mundo”, entregam-se a Deus;


  • da tragédia não usa o verso, preferiu a prosa, talvez para não “ofender” o próprio Frei Luís de Sousa, um dos melhores prosadores da língua portuguesa;


  • consequentemente, se, na forma, esta obra é um drama, na «índole», considera-a uma tragédia antiga;


  • uma acção muito “simples”, sem paixões violentas: poucas personagens, todas elas genuinamente cristãs , sem um “vilão”, sem assassínios, sem “sangue”;


  • sem estes “ingredientes”macabros, tão usados na época para captar o interesse das plateias, Garrett quis verificar se era possível despertar, nesse público ávido de emoções fortes, os dois sentimentos únicos de uma tragédia: o terror e a piedade;


  • no entanto, considera a sua peça “apenas” um drama, porque, tal como a sociedade, a literatura ainda estava em “construção”: a literatura reflecte, mas influencia, também, a sociedade;


  • refere as fontes de que se serviu para escrever o Frei Luís de Sousa: uma representação de teatro ambulante a que assistiu, ainda jovem; mais tarde, a leitura de duas narrativas sobre este tema, de D. Francisco Alexandre Lobo e de Frei António da Incarnação; mais recentemente, o drama, O Cativo de Fez;


  • afirma, porém, que não se sentiu obrigado a respeitar a verdade histórica, mas sim a “verdade” poética;


  • e justifica essa opção, caracterizando a sua época, o século XIX, como «um século democrático; tudo o que se fizer há-de ser pelo povo e com o povo…ou não se faz.»;


  • assim, uma vez que já não há Mecenas, tudo o que se escreve tem de ir ao encontro do gosto do leitor, e o leitor «quer verdade»;


  • a verdade encontra-se no passado histórico, porque é “o espelho” do presente: só assim o leitor apreciará, porque só assim entenderá – «é preciso entender para apreciar e gostar».

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Quem foi Frei Luís de Sousa?


Frei Luís de Sousa (Manuel de Sousa Coutinho)
(c.1555 - 1632)

Escritor e sacerdote português, natural de Santarém. Mudou de nome ao ingressar na vida religiosa, em 1613, como era prática usual nas ordens religiosas.
Foi nomeado cavaleiro da ordem de Malta por volta de 1572, tendo estado cativo em Argel e viajado pelo Oriente e pelas Américas. Esteve ao serviço de Filipe II e casou com D. Madalena de Vilhena, mulher de D. João de Portugal, que desaparecera na batalha de Alcácer Quibir. Em 1559, havia sido nomeado capitão-mor de Almada.
Nesse mesmo ano, destruiu o seu palácio pelo fogo, não permitindo assim que os governadores do reino, fugindo à peste de Lisboa, nele se refugiassem.
Em 1613, Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vilhena decidiram professar — ele, no convento de São Domingos, em Benfica, e ela, no convento do Sacramento. Um biógrafo atribuiu esta decisão à notícia de que D. João de Portugal se encontrava, afinal, vivo, tornando ilegítima a união do casal.
Escreveu vários livros, destacando-se a Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires e História de São Domingos.

Foi na vida "misteriosa" deste homem que Almeida Garrett se inspirou para escrever o Frei Luís de Sousa.

Excertos de http://www.universal.pt/scripts/hlp/hlp.exe/artigo?cod=2_392
Imagem: rascunho de página do Frei Luís de Sousa, escrito por Almeida Garrett.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Apresento-vos Almeida Garrett:


Antes de começarmos a estudar o Frei Luís de Sousa, leiam este poema de Almeida Garrett:


Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
E eu n’alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.


Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!


Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.


Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?


E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! Não te amo, não.


E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.


in Folhas Caídas



quinta-feira, 8 de novembro de 2007

terça-feira, 6 de novembro de 2007

A música no tempo do Padre António Vieira e... de Frei Luís de Sousa

Antonio Vivaldi(1678-1741), compositor de música barroca italiana.

Podem ouvir "Outono" de As quatro estações em:


http://www.youtube.com/watch?v=hrkOnEkFYLk

domingo, 4 de novembro de 2007

Balanço (definitivo!)

Encerrou o prazo para envio ou entrega dos trabalhos.

11º A: 16 trabalhos.
11º B: 14 trabalhos.

11º D: 5 trabalhos.

Vamos entrar em semana de testes e, depois, "matéria" nova!

P.S. : Não se esqueçam de ir lendo o Frei Luís de Sousa.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Argumentar sobre temas actuais

O aborto

"A proibição do aborto leva as pessoas a praticarem o aborto ilegal, que, na maior parte dos casos, é realizado sem as mínimas condições. (…) Poderia haver mais informação sobre os métodos contraceptivos para evitar que as pessoas abortem (…) e devem ser sempre seguida por psicólogos.
O aborto deve ser legal, pois há situações em que não é sensato ter uma criança. Se uma rapariga de catorze anos engravidar, o seu corpo tem poucas hipóteses de estar preparado para ter uma criança(…); pode, inclusivamente, ter sido vítima de agressão, ou mesmo de violação e a criança estar deformada(…); o aborto, em certas situações, é algo que deve ser, no mínimo, considerado. (…) Uma mulher não deve abortar “sempre que pode”, deve ter cuidado, pois o aborto é apenas para ser feito em casos de emergência.(…). As mulheres devem ser honestas e devidamente acompanhadas, antes e após o aborto, tendo em conta o seu historial médico(…).
Sim, o aborto deve ser praticado unicamente como última medida."

"O aborto continua, hoje em dia, a ser considerado um acto condenável a vários níveis.(…). Se a concepção é levada a cabo por apenas duas pessoas, porque será que tantas entidades se interpõem na decisão dos progenitores?
O facto é que o aborto é algo de mau para a mulher, tanto física como psicologicamente. Será que alguém se importa com a dor psicológica que advém dessa intervenção que irá marcar para sempre não só a mulher, mas também as pessoas que a amam (…)?
A vida é preciosa, mas quando não existem condições para ela, o que é a vida?"

"Eu concordo com a lei do aborto (…). Existem adolescentes e até crianças que engravidam acidentalmente. Estas jovens não têm condições nem maturidade para assumirem o papel de mães (…).
Não deve ser permitido fazer abortos quando nos apetece, ou seja, abusar da lei (…).
Nos casos de violação, (…) as mulheres não têm culpa e não têm de levar a gravidez em frente, quando não o querem.
Com base neste argumentos, posso concluir que concordo com a legalização do aborto, mas esta legalização deve ter limites para que não se possa abusar desta lei."

"O aborto vai contra o direito à vida, (…) porque é matar um ser humano (…). Além disso, ao abortar, estamos a decidir por um ser humano sem lhe dar oportunidade de escolha."

"Esta polémica[do aborto] é alvo de grandes críticas, porque as opiniões dividem-se (…), apesar de, no último referendo, ter ganho o sim ao aborto (…). Concordo que o feto é um ser vivo e não o devemos matar, aliás devemos sempre apoiar a vida, mas, em determinadas situações[razões monetárias, psicológicas, deficiências do filho, violação, sida], mais vale abortar (…).
Cabe à própria mulher decidir se o faz ou não."

Homossexualidade

"A homossexualidade ainda é um assunto polémico. No tempo dos nossos pais e dos nossos avós, era algo desconhecido, ou era “pecado” (…).
Cabe à actualidade mudar este pensamento! É verdade que faz muita confusão(…), mas também é bem verdade que o amor é essencial na vida de duas pessoas, sejam homens ou mulheres(…)."


Legalização das drogas leves

"A pergunta que se me coloca é se será benéfico ou prejudicial a sua legalização no nosso país (…).
Não restam dúvidas que o seu consumo é prejudicial para a saúde (provoca, em certos casos, uma acentuação da esquizofrenia(…). Muitas vezes, verifica-se que os consumidores, por não terem nenhuma informação acerca do que estão a consumir, são enganados (…).
Consequentemente, o Estado devia intervir neste problema(…)."

A corrupção na política

"Muitos políticos são corruptos por terem regalias a mais, o que dá origem aos “apitos dourados” ou aos “sacos azuis”(…)."

Eutanásia

"A eutanásia pode ser dividida em dois grupos: a eutanásia activa e a passiva e, embora com duas classificações possíveis, a eutanásia em si consiste no acto de facultar a morte sem sofrimento a um indivíduo com uma doença incurável ou condições de vida miseráveis. (…) É uma escolha, de modo a evitar a dor e o sofrimento de pessoas que se encontram sem qualidade de vida ou em fase terminal. Trata-se de uma escolha consciente ou informada.(…) Contudo existem numerosos argumentos contra, como os religiosos, éticos, políticos e sociais. (…) Do ponto de vista religioso, a eutanásia é tida como usurpação do direito à vida, que deve ser da exclusividade de Deus (…). Do ponto de vista médico, o mesmo não pode ser juiz da vida ou da morte de alguém (…)."

"A eutanásia (…) é o poder da escolha entre a vida e a morte (…). Pergunto: com que direito alguém pode ser tão egoísta ao ponto de impor a sua vontade (…) só porque o assunto o incomoda?"

"Acho que manter alguém vivo contra a sua vontade é puro egoísmo e falta de sensibilidade (…)."

"Na minha opinião, qualquer pessoa tem direito de pôr fim à vida desta maneira [eutanásia], se assim o desejar; mais vale morrer de uma vez do que ir sofrendo lentamente até morrer, mesmo que esse desejo seja do desagrado dos seus familiares e amigos (…)."

Pena de morte


"A pena de morte não deve nem pode existir(…). Não discordo que certas pessoas cometam atrocidades tais(abuso de menores, violações, massacres), em que a vontade que nos invade é a de as matarmos, mas isso não pode acontecer; por alguma razão, chamam aos humanos animais racionais e a vontade de matar outro ser pode ser considerada tudo menos racional(…). Ao ser executado, o criminoso não paga a sua dívida à sociedade(…)."

"Eu sou contra a pena de morte, porque acho que ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém, mas sou a favor da pena perpétua (…)."




Excertos de textos escritos por alunos do 11º D.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

E ainda dizem que não sabem argumentar...

Outro tema: o Racismo.

"Alguma vez viste pássaro a expulsar pássaro? Alguma vez viste peixe sendo escravo de outro?(...) eu e tu somos os únicos que aponta para um dos 'nossos' e diz: Não, aquele, não! Devo assim dizer que 'nós' somos únicos!(...) A cor da minha pele? Da maneira como escrevo e grito para o papel, consegues ver de que cor sou? " (Sublinhado meu)



Excerto de um texto escrito por aluno do 11º D.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O Texto Argumentativo

Um dos temas: a Eutanásia.

"Acho que cada um de nós devia morrer dignamente (…). Se o doente estivesse em estado vegetativo, o seu parente mais próximo poderia decidir se devia ou não prolongar a vida (…). Apesar disto, há sempre a hipótese de surgir uma cura para a doença do paciente (…). Na minha opinião, para poder haver eutanásia, legalmente, há que decidir certos parâmetros: que doentes poderão recorrer a ela (…); que médicos a executariam e onde."

"Penso que cada caso deve ser analisado individualmente, com uma avaliação médica, física e psicológica, de modo a entender as razões de querer ter uma morte assistida e entender se o caso se encaixa na legislação. Deve ser, no entanto, uma legislação flexível e bem debatida entre responsáveis clínicos e representantes dos cidadãos, não feita por alguém (como eu) que tem conhecimentos médicos mínimos."

"Existem pessoas que vêem a eutanásia como a forma mais prática de se matarem sem terem coragem de o fazer pelas suas próprias mãos (…).
Portanto, devemos mudar essas ideias erradas das pessoas e fazer uma lei que, em certos casos, permitisse a eutanásia."

"Todas as pessoas têm o direito de escolher o que querem para si (…).
Só não deveria praticar a eutanásia quem acha que só se morre quando 'Deus nos leva' (…). "

"A eutanásia devia ser permitida, a opção e o direito de cada um têm de ser respeitados. E como país livre que somos, a escolha deveria ser um direito…mas teremos assim tanta liberdade?"

"[A eutanásia] é um direito de todos acabar com o sofrimento (…).
Contudo existem argumentos não favoráveis: (…) um familiar pode decidir pela pessoa [em estado vegetativo]. Afinal não sabemos se essa seria a vontade da pessoa, incapacitada de escolher e decidir (…).
Atenção: a eutanásia não é algo obrigatório, é apenas uma opção!"

"Quando um doente está num estado muito mau, os parentes poderiam decidir se queriam acabar com a sua vida. Mas quem são estas pessoas para porem assim fim a uma vida?
(…) Existem muitas razões para legalizar a eutanásia, mas os ‘contras’ são muito fortes e, às vezes, ultrapassam os ‘prós’."

"(…) Vamos considerar os principais objectivos, deveres, prazeres ou acções da vida humana. Cada pessoa tem vida social e pessoal e com ausência de uma delas, já começa a sofrer (…). Agora imaginem se tudo o que foi dito [vida pessoal e social] não tem oportunidade de funcionar, podemos formular a pergunta: 'Qual é o sentido da vida sem tudo isso? Para quê ser um vegetal?'. Logo, a resposta é: 'Não!' (…). "

"Na minha opinião, só há uma razão para a eutanásia não ser legalizada, que é o choque que a mesma causa à sociedade devido à mentalidade das pessoas e à crença religiosa da maior parte (…)."

"Sou a favor da eutanásia pelo respeito ao ser humano e ao seu livre arbítrio (…). Todavia tenho em conta que estes casos devem ser acompanhados, medica e psicologicamente, por especialistas. (…) Um problema que pode surgir é o homicídio por negligência (…).
Esta decisão cabe a cada um, com ajuda profissional e um acordo entre todos os familiares (…)."

"A cada um de nós calhou-nos uma e só uma vida, sobre a qual temos o direito de escolha (…).
Para muitos a morte[eutanásia] é vista como um assassinato; no fim há ou pode haver o sentimento de culpa:'será que iria mesmo morrer? foi a coisa mais acertada?'(…).
Por difícil que seja, deveríamos levar a vida até ao fim, aos últimos momentos, e não pôr fim à vida."


Excertos de textos escritos pelos alunos do 11º G.

domingo, 28 de outubro de 2007

Uma outra(?) visão do Brasil...





NA GOVERNANÇA DA BAHIA, PRINCIPALMENTE NAQUELA
UNIVERSAL FOME, QUE PADECIA A CIDADE.


Que falta nesta cidade?.....................................Verdade
Que mais por sua desonra.................................Honra
Falta mais que se lhe ponha...............................Vergonha.

O demo a viver se exponha,
por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?*...............................Negócio
Quem causa tal perdição?...................................Ambição
E o maior desta loucura?....................................Usura.
(...)
(*socrócio: palavra criada pelo autor, significando "roubalheira").

in Obra Poética, Gregório de Matos(1623-1696) .

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Balanço (provisório...)

Menos de uma semana após ter pedido os trabalhos de pesquisa, o balanço é o seguinte:

11º A: 10 trabalhos.
11º B: 10 trabalhos.
11º D: 3 trabalhos.

O 11º G está a realizar uma outra tarefa que, mais tarde, será divulgada no blog. Mas a sua participação já se encontra em mensagem, devidamente identificada.

Só lamento não poder publicar excertos de todos os trabalhos enviados pelos meus alunos. A selecção foi feita por ordem de chegada.

A professora agradece a vossa colaboração!

P.S. Gostaria que, de vez em quando, deixassem um comentário.

domingo, 21 de outubro de 2007

A Inquisição



"Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo, contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão."


Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes,

Capt. V


Imagem retirada de trabalho de aluna do 11º B.

"A bula Licet ad capiendos (1233, Papa Gregório IX), a qual verdadeiramente marca o início da Inquisição, era dirigida aos inquisidores: Onde quer que os ocorra pregar estais facultados, se os pecadores persistem em defender a heresia apesar das advertências, a privá-los para sempre de seus benefícios espirituais e proceder contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando em caso necessário a ajuda das autoridades seculares e vencendo sua oposição, se isto for necessário, por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis."
__
"A Inquisição Católica Romana foi uma das maiores 'desgraças' que ocorreram na história da humanidade. Em nome de Jesus Cristo, sacerdotes católicos montaram um 'esquema' enorme para matar todos os 'hereges' na Europa. A heresia era definida da forma como Roma quisesse definir; isso abrangia desde pessoas que discordavam da política oficial, aos filósofos herméticos (praticantes de Magia Negra), judeus, bruxas e os reformadores protestantes."

Excertos de trabalhos de alunas do 11º D.


Ainda os Índios...


"Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos senão que devoram e engolem os povos inteiros."


Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes, Capt.V




"Entre os índios não existiam classes sociais, isto é, todos tinham os mesmos direitos e eram todos tratados do mesmo modo. Costumavam trabalhar todos para o mesmo, dividiam tarefas partilhavam as mais variadas coisas."



"Depois, quando os portugueses começaram a explorar mais a fundo o novo território, escravizaram muitas tribos índias e dizimaram as que se lhes opunham, pois achavam os índios um povo inferior e grosseiro. Por isso achavam ser seu dever civilizá-lo e cristianizá-lo, fazendo-o de forma violenta."



Excertos de trabalhos de alunas do 11º A.



sábado, 20 de outubro de 2007

E os Indios...





"Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar."

Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes, Capítulo IV

"As populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada. O preconceito parte, muito mais, daqueles que convivem directamente com os índios: as populações rurais.
Dominadas política, ideológica e economicamente por elites municipais com fortes interesses nas terras dos índios e em seus recursos ambientais, tais como madeira e minérios, muitas vezes as populações rurais necessitam disputar as escassas oportunidades de sobrevivência em sua região com membros de sociedades indígenas que aí vivem. Por isso, utilizam estereótipos, chamando-os de "ladrões", "traiçoeiros", "preguiçosos" e "beberrões", enfim, de tudo que possa desqualificá-los. Procuram justificar, desta forma, todo tipo de acção contra os índios e a invasão de seus territórios. "

"Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmo direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo."


Excertos de trabalhos de alunas do 11º A.
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A fotografia é do navio Amistad e foi-me enviada por uma colega. Com a sua permissão e meu agradecimento, a publico!

Os Jesuítas no Brasil



(Para ajudar a contextualizar o Padre António Vieira)


"No princípio do séc. XVII os jesuítas chegam ao Ceará, Piauí, Maranhão, Pará e daí para toda a Amazónia. As duas casas, fundadas em São Luís e em Belém, transformaram-se com o tempo em grandes colégios e em centros de expansão missionária para inúmeras aldeias indígenas espalhadas pelo Amazonas. António Vieira, apesar de seus triunfos oratórios e políticos, em defesa da liberdade dos indígenas, foi expulso pelos colonos do Pará, acusado e preso pela Inquisição. Em 1638, Pernambuco é tomada por holandeses protestantes, liderados pelo conde Maurício de Nassau. A resistência organiza-se numa aldeia jesuítica. Dos 33 jesuítas de Pernambuco, mais de 20 foram capturados, maltratados e levados para a Holanda; cerca de 10 faleceram em consequência dessa guerra. No séc. XVII, quando da descoberta das minas e do povoamento do sertão, os jesuítas passavam periodicamente por esses locais.."


"Desde 1549 chegara ao Brasil (Baía), o primeiro grupo de seis missionários liderados por Manuel da Nóbrega, trazidos pelo governador-geral Tomé deSousa. As missões jesuítas na América Latina foram controversas na Europa, especialmente em Espanha e em Portugal, onde eram vistas como interferência com a acção dos governantes. Os jesuítas opuseram-se várias vezes à escravidão indígena. Fundaram muitos aldeamentos missionários, chamadas Missões...".



"Na educação brasileira os jesuítas foram particularmente importantes, pois foi por ela que vieram até aqui. Foi para educar e catequizar os índios que cruzaram o oceano."
Excertos de trabalhos dos alunos do 11º B.


quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dia Mundial contra a Pobreza


"Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."

Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes, Capt. IV

Já que pouco ou nada podemos fazer para erradicar a Pobreza, pelo menos que não se erradique da nossa memória...

O que é um livro?



  • Um livro é um objecto que nos leva a sonhar e entrar num mundo imaginário onde cada leitor faz parte da história.


  • O livro é uma janela. Ora, então, se um livro é uma janela, deduzo que as estantes das bibliotecas sejam arranha-céus. Ler é o exercício mais fácil da mente(...). Será assim tão difícil e aborrecido? Não o acho.


  • Para mim, um livro é uma companhia.


  • (...) um livro é um espectáculo silencioso, que transforma simples letras numa visão(...).


  • O livro é o que nos deixa elevar os pensamentos, dá-nos outra forma de ver a vida e deixa a nossa imaginação voar.


  • Leitura é uma fonte de enriquecimento.


  • Para mim, um livro é uma janela para outras realidades, uma porta para os sonhos e o maior exemplo de partilha entre os Homens.(...) Está lá sempre; é como um passaporte de infinitas viagens para fantasias inimagináveis...


  • Um livro é uma troca de ideias, uma alma aberta, um amigo e quase um confidente.


  • Um livro de ensino é como um explicador silencioso, dá-nos informação, mas não fala.


  • Um livro, para mim, é uma fonte de informação(...), é um filme escrito.


  • Um livro é um objecto(...) que nos faz companhia, pois com ele podemos entrar num mundo que não é o nosso, viver várias aventuras, rir e até chorar.


  • (...) um livro é um professor silencioso(...).


  • Um livro(...) até nos ajuda a crescer.


Dos alunos do 11º G.

Poema de Liberdade



( A propósito do Padre António Vieira...)

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.


Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen