quinta-feira, 4 de junho de 2009

Terminando o Ano Lectivo

Em jeito de despedida e em tom de «provocação», deixo aqui um poema de Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa:

Lisboa, Maio de 2009, fim de dia de trovoada (da minha janela..)


Esqueço do Quanto me Ensinaram

Deito-me ao comprido na erva.
E esqueço do quanto me ensinaram.
O que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio,
O que me disseram que havia nunca me alterou a forma de uma coisa.
O que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos.
O que me apontaram nunca estava ali: estava ali só o que ali estava.

Boas Férias!
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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cesário Verde: temática, linguagem e estilo

Um dos vossos colegas fez um trabalho sobre Cesário Verde que eu acho que pode ser útil a todos:
PP Cesário


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quarta-feira, 20 de maio de 2009

A poesia de Cesário Verde: contextualização


Para compreender melhor a poesia de Cesário Verde:

Apresentação de Cesário Verde
Apresentação CesárioCELESTE mariacel
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segunda-feira, 18 de maio de 2009

Finalmente, o Poeta: Cesário Verde!

Viveu pouco tempo (1855-1886), mas deixou Obra!


Sobre ele, Fernando Pessoa, pela "voz" do heterónimo Alberto Caeiro, escreveu:



Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
...

.....

..Chiado, 26 de Abril de 2009

Que pena que tenho dele! Ela era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos...


Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Intermezzo musical...




Enquanto vão estudando, podem ir ouvindo a música que a Sara, do 11º B, me trouxe e que eu copiei para aqui:

ranourou kashni - cavalleria rusticana



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terça-feira, 5 de maio de 2009

Para rever Os Maias


Alguns alunos sugeriram que disponibilizasse orientação de estudo para o teste.

Aqui se encontram:

Perguntas de escolha múltipla

Teste Formativo:


Teste Formativo de Os Maias mariacel


quarta-feira, 29 de abril de 2009

Os Maias, conclusão: Capítulos XIII a XVIII

Capítulo XIII

  • Carlos leva Maria Eduarda à «Toca», a casa dos Olivais;
  • descrição da decoração do quarto;
  • ruptura de Carlos com a Condessa de Gouvarinho.

Comentário:

  • alguns pormenores da decoração do espaço são presságios: “[…]os amores de Vénus e Marte[…]” (p 433); “[…] o leito de dossel[…] como erguido para as voluptuosidades grandiosas de uma paixão trágica[…]” (p 434); “[…] uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu sangue, dentro de um prato de cobre.” (p 434); “[…] uma enorme coruja empalhada[…]” (p 434);
  • o espaço físico é, assim, transformado em espaço psicológico: “Mas Maria Eduarda não gostou destes amarelos excessivos.[…] achava impossível ter ali sonhos suaves.” (p 434).

Capítulo XIV

  • Maria Eduarda vai ao Ramalhete;
  • Castro Gomes, seu suposto marido, vai ter com Carlos, mostrando-lhe uma carta anónima, mas avisando-o de que não são casados.

Comentário:

  • aparece mais um presságio: Maria Eduarda, quando vê o retrato do pai do Carlos, comenta que o acha parecido com sua mãe.

Capítulo XV

  • Maria Eduarda conta a Carlos a sua infância e juventude e, perante a revelação de um passado tão amargo, Carlos decide casar com ela;
  • um jornal, a “Corneta do Diabo”, publica um artigo anónimo onde Carlos é ultrajado numa linguagem quase obscena;
  • Ega suborna o director do jornal, Palma Cavalão, que lhe revela que o autor do artigo foi o Dâmaso;
  • Ega obriga-o a escrever uma carta onde ele se confessa um alcoólico inveterado, vítima de um vício hereditário; deste modo, Ega aproveita também para se vingar do facto de Dâmaso lhe ter “roubado” a Raquel Cohen.

Comentário:

  • analepse: recuo ao passado de Maria Eduarda;
  • crítica ao “jornalismo” de pasquim e a quem se deixa subornar para publicar seja o que for;
  • crítica à cobardia de Dâmaso;
  • influência do Realismo/Naturalismo, quando se refere à hereditariedade (o suposto alcoolismo de Dâmaso).

Capítulo XVI

  • episódio do Sarau do Trindade, onde, mais uma vez, desfilam as várias personagens-tipo;
  • o Sr. Guimarães chega de Paris e revela a Ega que Maria Eduarda e Carlos são irmãos, o que pode comprovar com os documentos que guarda num cofre.

Comentário:

  • Crítica social: todos discutem desordenadamente e todos se querem mostrar, mas a ignorância e o provincianismo vêm ao de cima, quando uma das senhoras nem sequer sabe quem foi Beethoven e fala da “Sonata Pateta”(Patética).
  • Este é um dos capítulos mais importantes da intriga, porque nele se encontra o momento da agnórise, o reconhecimento (influência da tragédia grega) e que já se fizera “anunciar” por vários presságios ao longo da narrativa.
  • O tema é o incesto, a relação tabu e proibida entre dois irmãos, vítimas de circunstâncias que desconheciam, vítimas inocentes dos actos dos progenitores (neste caso, a mãe, Maria Monforte).
  • Os dois níveis da acção aqui “cruzam-se”, porque o incesto é motivado por causas que são também alvo da crítica social nos romances Realistas/Naturalistas: o comportamento adúltero das mulheres, a influência negativa do Romantismo.


Capítulo XVII

  • é revelada a Carlos a verdade;
  • Carlos, por sua vez, conta também ao avô;
  • vai a casa de Maria e dorme com ela, mesmo já sabendo que é sua irmã;
  • Afonso morre;
  • os irmãos, inevitavelmente separam-se e partem para o estrangeiro.

Comentário:

  • É o momento da katastrophé( catástrofe), quando as consequências terríveis se abatem: Afonso, aquele que resistira a tantos desgostos de família, sucumbe.
  • É ele, verdadeiramente, a vítima inocente.
  • Morre a personagem que se mantivera, ao longo de toda a vida (e narrativa), coerente, genuína, verdadeiramente “civilizado”.

Capítulo XVIII

  • Carlos regressa a Lisboa, após uma ausência de dez anos e passeia com Ega pela capital;
  • esse passeio revela que tudo permanece na mesma, principalmente as pessoas: ociosas, “moços tristes”, “mocidade pálida”(p 702);
  • voltam ao Ramalhete, agora abandonado, e embora reste uma sensação de falhanço, não há qualquer sentimento de remorso em Carlos.

Comentário:

  • tempo cronológico: elipse e prolepse( omissão de acontecimentos e consequente avanço no tempo, 10 anos);
  • tempo psicológico: “Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece estar metida a minha vida inteira!” (p 714);
  • espaço físico: Lisboa e os vários locais por onde vão passeando: o Loreto, o Chiado, Rua Nova do Almada, a Avenida, o Ramalhete;
  • espaço social: as pessoas que “povoam” esses espaços: “vadios, de sobrecasaca, politicando..”(p 697); “Uma gente feiíssima, encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada!...” (p 697);
  • espaço psicológico: o Ramalhete abandonado: “ Em baixo, o jardim[…] tinha a melancolia de um retiro esquecido, que já ninguém ama[…]”.(p 710);
  • as personagens reconhecem o falhanço: “- Falhámos a vida, menino!”(p 713). E, de acordo com o Realismo/Naturalismo, isso deve-se à ociosidade, ao tédio, à degradação moral, ao Romantismo, à religião, à educação. E ambos, Ega e Carlos, o “escritor” e o médico falhados, correm apenas para o que sempre tinham “corrido” na vida: para chegarem a tempo do jantar, isto é, a satisfação das suas necessidades primárias e básicas. Porque nunca tinham lutado “- Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder…”(p 716).

terça-feira, 28 de abril de 2009

Os Maias: Capítulos VII a XII


VII Capítulo

• Dâmaso Salcede, personagem tipo, que representa o novo-rico, consegue apresentar-se a Carlos, mas também tornar-se indesejável, devido ao seu comportamento exibicionista;
• a Condessa de Gouvarinho visita Carlos no consultório;
• informações dos amigos a Carlos sobre a misteriosa mulher que tanto o impressionara.

Comentário:


• Capítulo que remete, sobretudo, para a crítica social.

VIII Capítulo

• Carlos e Cruges vão a Sintra à procura da “Mulher”;
• encontram Eusèbiozinho, já viúvo, com um amigo e duas prostitutas espanholas;
• Carlos tem notícias dessa mulher, casada, e de quem o Dâmaso já se tornara muito amigo.

Comentário:

• crítica ao comportamento previsível de Eusèbiozinho: a educação religiosa, “beata”, desencadeia atitudes de hipocrisia e de degradação moral.

IX Capítulo

• alguns pormenores que se integram no domínio da crítica social, sobretudo o comportamento das mulheres.

Comentário:

• mais uma vez, a crítica às mulheres da alta burguesia lisboeta.

X Capítulo

• destaca-se o episódio da corrida de cavalos e a atitude dos portugueses que frequentam esse tipo de evento social;
• tal como no jantar do Hotel Central, tudo termina com uma desordem pouco adequada à situação.

Comentário:

• crítica ao modo como as pessoas se apresentavam, sobretudo as mulheres, com “vestidos de missa”(p 316), uma vez que não estavam habituadas a este género de evento, tipicamente inglês: “um canteirinho de camélias meladas”(p 317);
• Afonso da Maia, na sua posição distanciada, já comentara que “o verdadeiro patriotismo[...] seria, em lugar de corridas, fazer uma boa tourada.”(p 308);
• crítica aos portugueses que têm o hábito de imitar o que era estrangeiro, mas, como não era genuíno, “desmanchando a linha postiça de civilização e a atitude forçada de decoro…” (p 325);
• caracterização do espaço social.

Capítulo XI

• Carlos, pela primeira vez, fala com "a tal" mulher, Maria Eduarda, passa a visitá-la com assiduidade e trocam confidências;
• percebe que Dâmaso, supostamente, como já lhe tinham dito, se tinha tornado, também, íntimo da casa.

Comentário:

• a semelhança dos nomes, Carlos Eduardo e Maria Eduarda: “Quem sabe se não pressagiava a concordância dos seus destinos!” (p 346);
• Maria repudia Dâmaso, o que explica comportamentos posteriores.

Capítulo XII

• Carlos e Maria Eduarda tornam-se amantes;
• Carlos aluga a Craft a casa dos Olivais, "A Toca", onde poderão viver, discretamente, a sua paixão.

Comentário:

• momento da intriga em que as personagens desafiam o Destino, hybris, ignorando, como nas tragédias, quem são e as consequências futuras.


(Notas: sublinhados meus nas citações; a paginação remete para a Edição de Os Livros do Brasil.)
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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Os Maias, Capítulo VI



VI Capítulo



  • jantar de homenagem a Cohen (o banqueiro judeu) no Hotel Central;
  • Carlos cruza-se com uma bela desconhecida quando entra no Hotel;
  • nesse jantar revelam-se outras personagens “tipo”: Alencar, poeta Ultra-Romântico, que tinha sido amigo dos pais de Carlos; o Craft, um inglês que há muito vivia em Portugal; Dâmaso Salcede, o novo-rico;
  • o jantar termina com uma briga;
  • já em casa, Carlos recorda o passado, como ficara a conhecer a história da mãe e do pai e adormece, evocando a visão da mulher que tanto o tinha impressionado. ......

.................................................................................................................................... Hotel Central

Comentário:

Este é um dos Capítulos mais importantes, porque nele se cruzam os dois níveis da obra: o da intriga e o da crónica de costumes.

A intriga:

  • presságios: Ega, em conversa com Carlos (antes do jantar) diz-lhe que ele há-de vir a “acabar desgraçadamente[…] numa tragédia infernal”( p 152);
  • a mulher com quem Carlos se cruza é como uma “deusa” envolta em mistério (p 157);
  • no final do Capítulo, o sonho de Carlos, após ter recordado o seu passado familiar, remete para esta mulher, sonho premonitório.


A crónica de costumes:

  • o comportamento e a linguagem pouco adequados da alta burguesia lisboeta que quer parecer muito civilizada e cosmopolita;
  • a oposição entre o Ultra-Romantismo retrógrado(Alencar) e o Realismo/Naturalismo(Ega), ambos exagerados.
  • espaço social: o Hotel Central, onde desfila esta galeria de tipos sociais.

( A foto foi enviada pelo João Vale do site: http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/portugues/portugues_trabalhos/osmaiasjantarhotelcentral.htm)

domingo, 26 de abril de 2009

Fomos ao teatro...



...no último dia de representação de Os Maias, no Teatro da Trindade.


(O meu agradecimento ao professor Joaquim Melro, que nos acompanhou.)




quinta-feira, 23 de abril de 2009

No Dia Mundial do Livro...


....o contributo de duas das minhas alunas.

Estes textos encontram-se também publicados em
Arteziletras e expostos no Centro de Recursos.

O Livro

"Era uma vez...": também assim começou este livro. As personagens são poucas, no entanto as descrições preenchem linhas: "E naquela casa de férias tudo libertava um aroma doce: as janelas abertas deixavam entrar o sol doirado, o sussurro das plantas deixava adivinhar a brisa fresca presente no prado e o tom meigo com que eram ditas todas as palavras enaltecia o espírito."

Várias foram as vezes em que repeti a leitura de frases só para as poder absorver em mim e saboreá-las com o mesmo prazer com que foram escritas. Não tive em momento algum pressa para terminar a leitura e todas as páginas foram minutos de sabedoria que me acolheram dias e noites. Hoje terminou a leitura, estranhamente mas terminou. Consigo ver que páginas foram arrancadas e não sei ao certo porquê nem por quem. Reconheço apenas a última frase presente: "O relógio do tempo parou por longos instantes e nem o teu brilho conseguiu curar a minha cegueira."

Da Maria João J., 11º E



Cartas sobre livros

Olho-te cá de baixo, tentando alcançar-te com o olhar. Inspiro-me numa bailarina em pontas, para chegar a ti e, num movimento preso, estico o braço e levanto-o, procuro agarrar-te enquanto passo as mãos pela prateleira, pois reconheço-te pelo toque. Sinto as tuas marcas de nascença que, no fundo, dizem, numa imagem, aquilo que tu és, lembra-te que não te deves envergonhar disso, não deixes que os outros as escondam.

Tenho-te agora nas minhas mãos, enquanto leio os pensamentos de outros que sigo com o dedo, fazendo-me perder. O teu cheiro espalha-se enquanto te folheio, e faço passar as páginas rapidamente, entranha-se na roupa, e leva-me para esse mundo estranho. Terras que apenas vi em ti, pessoas que não hei-de conhecer de outra forma, que, de alguma maneira, tu mostras e fazes-me ter a certeza daquilo que quero. Ainda que seja apenas uma visão, um monólogo, e eu não me tenha levantado do sofá da sala.

Da Catarina , 11ºB


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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Recomeçando: Os Maias, Capítulos II a V






II Capítulo

  • casamento de Pedro e Maria Monforte (“felicidade de novela”);

  • os dois filhos, Maria Eduarda e Carlos Eduardo;

  • fuga de Maria com o príncipe italiano, levando consigo a filha;

  • Pedro fica com o filho, regressa a casa do pai e suicida-se.

Comentário:

  • a crítica ao comportamento das mulheres: Maria foge, devido à leitura de romances românticos, que deturpavam a visão que as mulheres tinham da realidade;

  • até o nome do filho, Carlos Eduardo, tinha sido escolhido por ser o de um herói de um romance, com uma vida de "aventuras e desgraças" (presságio);

  • Pedro suicida-se, como era de esperar, devido ao seu temperamento neurótico (hereditariedade) e educação tradicional, “beata”.
III Capítulo

  • Afonso retira-se para Santa Olávia com o neto e, aí, tem a preocupação de lhe dar uma educação à inglesa: ar livre, ginástica, inglês (“mente sã em corpo são”);

  • em oposição, a educação de Eusèbiozinho, tradicionalmente portuguesa e “beata”.
Comentário:

  • a oposição entre os dois tipos de educação revela, mais uma vez, a crítica à educação tradicionalmente portuguesa.

IV Capítulo

  • Carlos vai estudar para Coimbra, forma-se em Medicina;

  • torna-se amigo de João da Ega, o "escritor", personagem que representa o Realismo/Naturalismo;

  • quando acaba o curso, viaja pela Europa e o avô já o esperava em Lisboa, no Ramalhete;
    o consultório é mobilado luxuosamente;

  • Ega prepara o seu grande livro, Memórias de Um Átomo.
Comentário:

  • termina a analepse que se iniciara no I Capítulo e o tempo cronológico volta a ser 1875.

  • alguns pormenores são já significativos em termos de crítica e de caracterização da personagem: o luxo excessivo do consultório de Carlos não se coaduna com o exercício da Medicina;

  • Ega começa a escrever o livro de que se falava desde os seus tempos de estudante (será que alguma vez vai terminar essa “Bíblia”?).
V Capítulo

  • O Ramalhete e a vida social da família Maia e da alta burguesia de Lisboa: espaço social;

  • apresentação de várias personagens “tipo”: o Cruges, pianista falhado; Steinbroken, o embaixador finlandês; a Raquel Cohen, amante do Ega; a Condessa de Gouvarinho que Ega “recomenda” a Carlos.
Comentário:

  • a crítica social torna-se mais corrosiva, em particular, no que diz respeito ao comportamento das mulheres (o adultério);

  • as causas são: a leitura de romances românticos, a ociosidade e consequente tédio.


Imagem retirada do blogue: http://themaias.wordpress.com/category/figurino/page/2/,
por indicação do aluno João Vale.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Quase de Férias...







A todos, votos de umas boas Férias, merecidas!


O "postal ilustrado" é o Teatro da Trindade, onde iremos, dia 26 de Abril, assistir à representação de Os Maias.

Observem bem para depois "anotarem" as diferenças!











Teatro da Trindade, 1867 ( da web)
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domingo, 22 de março de 2009

Esboços


(...)

E à tardinha tu não vieste e a Primavera não veio
Porque para ser Primavera seria preciso que tu tivesses chegado
E a minha Primavera não chegou
Só porque tu não vieste

Por onde andas
Que caminhos percorres que não os meus
E as flores que são da Primavera não vieram nos teus braços
E tu não me trouxeste ramos de flores
Porque elas floriram e murcharam
Antes de tu as colheres


Eis o meu ramo de flores!

Loucas as flores que não me deste


(«Floriram por engano as rosas bravas….»)



Monet, " Flores de Primavera"
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Imagem da web
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domingo, 15 de março de 2009

Prenúncio de Primavera...


...com um poema de Alberto Caeiro e o "Hino à Alegria" da Nona Sinfonia de Beethoven:




Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.

Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa).
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segunda-feira, 9 de março de 2009

Os Maias: I Capítulo

No final deste 2º Período, faremos um teste com um excerto do I Capítulo de Os Maias, cujos tópicos mais importantes organizei no ano anterior e que volto a publicar, porque se mantêm actuais.

Espaços: Santa Olávia (espaço rural), Lisboa (espaço urbano).

Tempos:

- Presente: Outubro de 1875;

- Passado: analepse (recuo no tempo) à juventude de Afonso da Maia. Casamento com Maria Eduarda Runa, nascimento do filho, o Pedrinho, ida para Inglaterra; regresso a Portugal, morte da mulher e juventude de Pedro até ao seu casamento, contra a vontade do pai, com Maria Monforte.

Temática importante:

  • A crítica à educação tradicional/religiosa ("beata"), que contribui para deformar a personalidade dos indivíduos (ex: Pedro da Maia);
  • Os excessos, de todo o género, que esse tipo de educação e uma sociedade romântica fomentam (Pedro da Maia);
  • O pragmatismo “inglês” de Afonso da Maia, no que diz respeito à educação e à religião; oposição Afonso/Pedro: força/fraqueza;
  • A ascensão social dos novos-ricos: Maria Monforte e o pai, muitas vezes, através de meios pouco sérios (tráfico de negros);
  • A caracterização de Pedro da Maia, cuja personalidade se deve aos factores, antes referidos e a que se acrescenta o factor hereditariedade (influência do Naturalismo);
  • O aparecimento de presságios, desde o início:

-A família tinha poucos elementos( só avô e neto);

-O Ramalhete sempre tinha sido “fatal” à família Maia;

-Pedro era parecido com um bisavô materno que se tinha suicidado;

-Maria Monforte era de uma beleza clássica, magnífica, comparada à das estátuas gregas;

-A sombrinha escarlate de Maria “derramava” como que uma mancha de sangue sobre Pedro.

Linguagem e recursos estilísticos:

  • A adjectivação com a intenção de descrever pormenorizadamente (característica do Realismo): [Pedro era] “mudo, murcho, amarelo…”(Capt I, p 20);
  • A ironia para acentuar a crítica social, nomeadamente, o uso dos diminutivos: [Pedro] “ aos dezanove anos teve o seu bastardozinho.”(Capt I, p 20);
  • O advérbio de modo com uma função adjectivante: [Afonso] “esteve olhando abstraidamente a quinta…” (Capt I, p 31);
  • A sinestesia ( sugere sensações várias): “ Os passos do escudeiro não faziam ruído no tapete fofo; o lume estalava alegremente, pondo retoques de oiro nas pratas polidas;” (audição, tacto, audição, visão)-(Capt I, p 31);
  • A comparação: “…e a sua face [de Maria Monforte], grave e pura como um mármore grego…” (Capt I, p 29);
  • A metáfora: [Maria Monforte]"... arrastando com um passo de deusa a sua cauda de corte…" (Capt I, p 23).

Nota: A paginação remete para a obra na sua edição de Os Livros do Brasil.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Os Maias, «com pompa e circunstância»! (centésima mensagem)


Os Maias




De uma série brasileira, adaptação de Os Maias, com música dos MadreDeus, voz de Teresa Salgueiro.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Para finalizar o estudo do Frei Luís de Sousa


Propus aos meus alunos que escrevessem, em grupo, um texto inspirado pelo Frei Luís de Sousa:

  • Traição/Fidelidade;
  • A "ilegitimidade" dos filhos: passado/presente;
  • A Identidade Nacional: ainda faz sentido, nos dias de hoje, "Ser Português"?.

O género literário também ficará ao critério dos alunos: Texto Dramático, Narrativo ou Lírico.

A apresentação será feita em aula e publicarei, em Trabalhos dos Alunos, os textos que me enviarem.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Para Amanhã...




Embora a tradição seja, sobretudo, anglo-saxónica, o Dia dos Namorados, Dia de S. Valentim, passou também a ser festejado por "cá".

Por isso, publiquei no blogue, Trabalhos dos Alunos, duas Cartas de Amor/Despedida de "Madalena", a propósito do estudo do Frei Luís de Sousa.

Tenham um bom Dia!
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A fotografia é do Blogue da Bárbara
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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Escrita com sentidos





Vivo sem palavras; sem segredos; sem desejos; sem sentidos, pontos cardeais.

Rumo para quê? Viver a vida, dia a dia, hora a hora.

Desperto um conjunto de incríveis sensações sem saber muito bem defini-las: como tal, vivo assim.

Toco, sinto, acaricio e não sei bem se o faço a medo ou se apenas sinto puxarem-me para um sítio qualquer. Caminho, por um longo caminho sem fim, sem saber por onde me guiar ou até mesmo me apoiar.

Não vivo a medo, isso nunca o fiz nem o farei. Não vivo por viver, tenho gosto de o fazer…


(Texto da Tatiana)



Fotografia do Blogue da Tatiana
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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Ouvir, Ler e Escrever!






«Não fazem parte de mim amores efémeros, por isso silenciei em mim todas as palavras.»

«Queria poder voltar a conhecer os teus sinais sem ser preciso olhá-los. Aconchegar-te num colo seguro como em tempos foi.Onde ficaram os suspiros conjuntos levados pelo tempo? Onde param agora os risos inocentes que num minuto significavam o mundo?Continuo a ir ao miradouro onde nos perdíamos , mas não te encontro. Onde estás tu agora? Sinto a tua falta.

P.S.: o espelho continua a reflectir uma imagem incompleta com ilusões.»

Do blogue Palavras Soltas



«Se o meu amor é realmente tão grande como o clamo, irei tirar-vos a minha vida das vossas mãos.»

«Procuro-te nos cantos. O único sítio que conheço como a palma da minha mão, como a ti. Por que razão gostam as pessoas deles? Onde todas as linhas se juntam, onde se situa o ponto de fuga.»

Do blogue Obrigada António



quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Ouvir








(Do filme "Quem És Tu?" de João Botelho)

http://odeo.com/episodes/2300000

A propósito de amores impossíveis...


Excerto de Romeu e Julieta, Prokofiev:





Sergei Prokofiev, compositor russo, 1891/1953.
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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Frei Luís de Sousa, III Acto


(Termino a transcrição do que já tinha publicado no ano lectivo anterior!)

Espaço: "parte baixa do palácio de D. João de Portugal", Almada; "casarão" despojado de ornamentos, apenas com cruzes, tocheiras e outros objectos religiosos.

Tempo: "alta noite".

Topoi ("tópicos"):
  • Descrição dos acontecimentos recentes que provocam as mudanças repentinas ( e inesperadas?) que ocorreram na vida da família: Manuel, pela primeira vez, mostra-se angustiado, revoltado, mas também conformado com a decisão irreversível que tem de tomar. Em diálogo com seu irmão, Frei Jorge (confidente), reflecte sobre a desonra que se abateu sobre si próprio, sobre a família e, sobretudo, sobre sua filha, Maria, a vítima inocente.
  • A "morte para o mundo": separação do casal e ida para o convento, porque só a entrega a Deus pode redimir o seu pecado e só em Deus podem encontrar a resignação.
  • Agravamento da doença de Maria: referência explícita ao "sangue em golfadas", sintoma da tuberculose.
  • Os pressentimentos/presságios cumprem-se: Telmo reconhece que, embora sempre tenha desejado o regresso de seu amo, agora o repudiaria, se fosse possível; a separação de D. Joana e marido, que Maria admirava, está também prestes a atingir seus pais.
  • Expressão de sentimentos contraditórios: Telmo "escolhe" Maria a quem já ama mais que a D. João de Portugal.
  • Reconhecimento indiscutível do Romeiro: ele é D. João de Portugal.
  • Tentativa, ainda que vã, de alterar o curso dos acontecimentos: no entanto, as consequências terríveis e trágicas são, agora, inevitáveis.
  • Morte de Maria em palco, "de vergonha".
  • Redenção do pecado e da desonra de Madalena e Manuel: consagração a Deus.


    Romantismo: espírito cristão, crença de que só em Deus é possível encontrar a salvação: a "morte para o mundo"; a emotividade, agora "irracional", de Manuel; a contradição de sentimentos em Telmo;os pormenores mórbidos relacionados com a doença de Maria; a morte "espectacular" desta personagem em palco. A expressão de sentimentos, através da linguagem e do estilo, acentua-se: interjeições, frases inacabadas, frases exclamativas, apóstrofes, hipérboles...

    Classicismo: momentos que marcam o final da tragédia.

    Vide: mudança súbita dos acontecimentos(peripateia); impossibilidade de os alterar, porque eles sempre se "anunciaram"(presságios) como inevitáveis; o crime cometido não pode passar sem castigo e atinge, não só quem o praticou(Manuel e Madalena), como também a vítima inocente, Maria: a katastrophe.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Continuando com o Frei Luís de Sousa, II Acto


(Continuo a transcrever os posts do ano lectivo anterior, com a colaboração dos resumos que os meus alunos me entregaram ou enviaram):

Espaço: Almada, "palácio que fora de D: João de Portugal"; "salão antigo, de gosto melancólico e pesado"; retratos vários, destacando-se os de D. Sebastião, Camões e D. João de Portugal.


Tempo: oito dias depois do incêndio do palácio de Manuel de Sousa; sexta-feira, dia do aniversário do primeiro casamento de Madalena, data que coincide com o primeiro encontro dela com Manuel de Sousa e com o dia em que D. João de Portugal desapareceu em Alcácer-Quibir.


Topoi("tópicos"):

  • A curiosidade precoce de Maria continua a manifestar-se a propósito da identidade dos retratos: em diálogo com Telmo, este vai-lhe falando de D. Sebastião e de Camões, mas evita revelar-lhe quem é o terceiro.
  • O Sebastianismo/Nacionalismo: recusa em acreditar que D. Sebastião tenha morrido, porque significaria a permanência do domínio castelhano em Portugal.
  • Idealização da figura do "poeta desgraçado", Camões: Telmo afirma ter sido seu amigo, falando da sua morte prematura, na miséria, e do esquecimento a que a sua obra foi votada.
  • Referência (premonitória) a D. Joana e seu marido, que se separaram para seguirem a vida monástica: Maria revela admiração por esta escolha que considera muito corajosa.
  • Os sintomas da doença de Maria são referidos frequentemente: a febre.
  • A interpretação simbólica da destruição do retrato de Manuel de Sousa, no incêndio: perturbação crescente de Madalena, que acredita que é um sinal de que algo de funesto vai acontecer.
  • Revelação da identidade do retrato de D. João de Portugal: Manuel de Sousa, serenamente, di-lo a sua filha.
  • Os terrores de Madalena acentuam-se: o marido, a filha e Telmo vão a Lisboa, deixam-na com os seus "espectros" e maus pressentimentos, ficando com ela apenas Frei Jorge.
  • A figura misteriosa e ameaçadora do Romeiro: a sua chegada é anunciada por Miranda.
  • Revelação "dúbia" da identidade do Romeiro, após um diálogo em ansiedade crescente entre ele, Madalena e Frei Jorge: "Ninguém!"


    Romantismo: a presença ameaçadora e "agoirenta" dos retratos, os espectros; o Sebastianismo e o nacionalismo; referência à figura "marginalizada" e incompreendida de Camões; a doença e impulsividade de Maria; a sensibilidade doentia e as superstições de D. Madalena, nomeadamente, a propósito da "sexta-feira"; o mistério que adensa toda a acção do II Acto. A linguagem emotiva continua a reflectir os estados de espírito das personagens.

    Classicismo: continuação dos momentos que caracterizam a tragédia:

    Vide: a aflição de Madalena vai-se acentuando(o pathos); em breve se assistirá a uma mudança repentina da acção (a peripateia); o momento do "reconhecimento" (anagnorise) desencadeado por alguém que vem "de fora", o Romeiro, e anunciado pelo "mensageiro da desgraça", Miranda. Manuel continua a revelar-se sensato, racional, assim como seu irmão, Frei Jorge.

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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Frei Luís de Sousa, I Acto


(Houve quem já tivesse ido "espreitar" os tópicos que publiquei neste blogue, no ano lectivo anterior. Enviaram mensagens para um desses posts. Por isso, à medida que forem enviando os resumos dos Actos, irei publicando novamente esses tópicos.)

Frei Luís de Sousa, I Acto:

Espaço: "câmara antiga", Almada, palácio de Manuel de Sousa.
Tempo: "fim da tarde", "princípios do século dezassete".

Topoi("tópicos"):
  • Reflexões inquietas de Madalena: lê excertos de Os Lusíadas de Camões, episódio de Inês de Castro, o que a leva a meditar sobre o carácter efémero da felicidade e do amor;
  • A importância do passado: do diálogo entre Telmo e Madalena ficamos a saber que Madalena foi casada com D. João de Portugal e que ele "desapareceu" em Alcácer Quibir, tal como D. Sebastião, quando ela tinha apenas 17 anos. Procurou-o durante 7 anos e, seguidamente, casa com o homem que já amava, Manuel de Sousa Coutinho. Têm uma filha com 13 anos. Telmo "acusa-a" de ter atraiçoado a memória de seu amo (D. João), contribuindo para que se adensem os terrores e as angústias de Madalena;
  • O Sebastianismo: Maria entra em cena, impulsiva, exprimindo o desejo de que D. Sebastião regresse para salvar Portugal do domínio castelhano, sem saber que isso poderia implicar o regresso do primeiro marido de sua mãe e consequente desonra da família;
  • A crença em agouros, superstições, "sonhos"/ delírios: Maria;
  • O "mensageiro": Frei Jorge, irmão de Manuel de Sousa, avisa que os governadores castelhanos têm a intenção de ir procurar "alojamento" em Almada, naquela casa. Maria, em particular, repudia esse acolhimento;
  • A doença de Maria: comentários preocupados sobre a sua "fina" audição, sintoma da tuberculose que a afecta. É ela a única que ouve a voz de seu pai que está de regresso a casa;
  • O nacionalismo: Manuel, já em sua casa, ordena que todos a abandonem, para que, assim, não tenham que ser anfitriões dos castelhanos. A alternativa é procurarem abrigo no palácio onde Madalena morou com o primeiro marido. Maria concorda e incentiva, entusiasmada, esta atitude de rebeldia de seu pai;
  • Terror crescente de Madalena: para ela, o regresso a essa casa é prenúncio da desgraça que sempre temeu. Manuel considera infundados os terrores da mulher e avança com a sua decisão;
  • Final "apoteótico" do I Acto: com a chegada imprevista dos governadores castelhanos, Manuel de Sousa obriga todos a sairem e incendeia a sua própria casa.


Romantismo: emotividade de D. Madalena; citações de Camões (de Os Lusíadas);a crença em agouros e superstições (Maria e Telmo); a fragilidade e sensibilidade "doentias" de Maria; o Sebastianismo; o repúdio do domínio castelhano; espectacularidade da cena final do I Acto, o incêndio do palácio.

A linguagem e o estilo reflectem o turbilhão de emoções que afecta as personagens: apóstrofes, interjeições, frases exclamativas e interrogativas, repetições, reticências.

Classicismo: os momentos que marcam a inevitabilidade da tragédia.

Vide: presságios que se confundem com os agouros; aproximação do pathos e do climax; adivinha-se a mudança, a peripateia; o desafio de Manuel de Sousa às autoridades instituídas e de Maria, que, sem ter consciência, apela a "um regresso ao passado"( hybris); ela é a vítima inocente sobre a qual a fúria inexorável do Destino se irá abater. No I Acto, Manuel de Sousa representa o racionalismo dos clássicos pelo modo como (ainda) controla as suas emoções.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Mais um Ano: 2009

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Saudemos o Novo Ano como se ele fosse Eterno! Um Bom Ano para Todos!


Eternidade

Vens a mim
pequeno como um deus,
frágil como a terra,
morto como o amor,
falso como a luz,
e eu recebo-te
para a invenção da minha grandeza,
para rodeio da minha esperança
e pálpebras de astros nus.

Nasceste agora mesmo.Vem comigo.

Jorge de Sena, in Perseguição

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