quinta-feira, 4 de junho de 2009

Terminando o Ano Lectivo

Em jeito de despedida e em tom de «provocação», deixo aqui um poema de Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa:

Lisboa, Maio de 2009, fim de dia de trovoada (da minha janela..)


Esqueço do Quanto me Ensinaram

Deito-me ao comprido na erva.
E esqueço do quanto me ensinaram.
O que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio,
O que me disseram que havia nunca me alterou a forma de uma coisa.
O que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos.
O que me apontaram nunca estava ali: estava ali só o que ali estava.

Boas Férias!
.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cesário Verde: temática, linguagem e estilo

Um dos vossos colegas fez um trabalho sobre Cesário Verde que eu acho que pode ser útil a todos:
PP Cesário


.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A poesia de Cesário Verde: contextualização


Para compreender melhor a poesia de Cesário Verde:

Apresentação de Cesário Verde
Apresentação CesárioCELESTE mariacel
.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Finalmente, o Poeta: Cesário Verde!

Viveu pouco tempo (1855-1886), mas deixou Obra!


Sobre ele, Fernando Pessoa, pela "voz" do heterónimo Alberto Caeiro, escreveu:



Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
...

.....

..Chiado, 26 de Abril de 2009

Que pena que tenho dele! Ela era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos...


Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Intermezzo musical...




Enquanto vão estudando, podem ir ouvindo a música que a Sara, do 11º B, me trouxe e que eu copiei para aqui:

ranourou kashni - cavalleria rusticana



.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Para rever Os Maias


Alguns alunos sugeriram que disponibilizasse orientação de estudo para o teste.

Aqui se encontram:

Perguntas de escolha múltipla

Teste Formativo:


Teste Formativo de Os Maias mariacel


quarta-feira, 29 de abril de 2009

Os Maias, conclusão: Capítulos XIII a XVIII

Capítulo XIII

  • Carlos leva Maria Eduarda à «Toca», a casa dos Olivais;
  • descrição da decoração do quarto;
  • ruptura de Carlos com a Condessa de Gouvarinho.

Comentário:

  • alguns pormenores da decoração do espaço são presságios: “[…]os amores de Vénus e Marte[…]” (p 433); “[…] o leito de dossel[…] como erguido para as voluptuosidades grandiosas de uma paixão trágica[…]” (p 434); “[…] uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu sangue, dentro de um prato de cobre.” (p 434); “[…] uma enorme coruja empalhada[…]” (p 434);
  • o espaço físico é, assim, transformado em espaço psicológico: “Mas Maria Eduarda não gostou destes amarelos excessivos.[…] achava impossível ter ali sonhos suaves.” (p 434).

Capítulo XIV

  • Maria Eduarda vai ao Ramalhete;
  • Castro Gomes, seu suposto marido, vai ter com Carlos, mostrando-lhe uma carta anónima, mas avisando-o de que não são casados.

Comentário:

  • aparece mais um presságio: Maria Eduarda, quando vê o retrato do pai do Carlos, comenta que o acha parecido com sua mãe.

Capítulo XV

  • Maria Eduarda conta a Carlos a sua infância e juventude e, perante a revelação de um passado tão amargo, Carlos decide casar com ela;
  • um jornal, a “Corneta do Diabo”, publica um artigo anónimo onde Carlos é ultrajado numa linguagem quase obscena;
  • Ega suborna o director do jornal, Palma Cavalão, que lhe revela que o autor do artigo foi o Dâmaso;
  • Ega obriga-o a escrever uma carta onde ele se confessa um alcoólico inveterado, vítima de um vício hereditário; deste modo, Ega aproveita também para se vingar do facto de Dâmaso lhe ter “roubado” a Raquel Cohen.

Comentário:

  • analepse: recuo ao passado de Maria Eduarda;
  • crítica ao “jornalismo” de pasquim e a quem se deixa subornar para publicar seja o que for;
  • crítica à cobardia de Dâmaso;
  • influência do Realismo/Naturalismo, quando se refere à hereditariedade (o suposto alcoolismo de Dâmaso).

Capítulo XVI

  • episódio do Sarau do Trindade, onde, mais uma vez, desfilam as várias personagens-tipo;
  • o Sr. Guimarães chega de Paris e revela a Ega que Maria Eduarda e Carlos são irmãos, o que pode comprovar com os documentos que guarda num cofre.

Comentário:

  • Crítica social: todos discutem desordenadamente e todos se querem mostrar, mas a ignorância e o provincianismo vêm ao de cima, quando uma das senhoras nem sequer sabe quem foi Beethoven e fala da “Sonata Pateta”(Patética).
  • Este é um dos capítulos mais importantes da intriga, porque nele se encontra o momento da agnórise, o reconhecimento (influência da tragédia grega) e que já se fizera “anunciar” por vários presságios ao longo da narrativa.
  • O tema é o incesto, a relação tabu e proibida entre dois irmãos, vítimas de circunstâncias que desconheciam, vítimas inocentes dos actos dos progenitores (neste caso, a mãe, Maria Monforte).
  • Os dois níveis da acção aqui “cruzam-se”, porque o incesto é motivado por causas que são também alvo da crítica social nos romances Realistas/Naturalistas: o comportamento adúltero das mulheres, a influência negativa do Romantismo.


Capítulo XVII

  • é revelada a Carlos a verdade;
  • Carlos, por sua vez, conta também ao avô;
  • vai a casa de Maria e dorme com ela, mesmo já sabendo que é sua irmã;
  • Afonso morre;
  • os irmãos, inevitavelmente separam-se e partem para o estrangeiro.

Comentário:

  • É o momento da katastrophé( catástrofe), quando as consequências terríveis se abatem: Afonso, aquele que resistira a tantos desgostos de família, sucumbe.
  • É ele, verdadeiramente, a vítima inocente.
  • Morre a personagem que se mantivera, ao longo de toda a vida (e narrativa), coerente, genuína, verdadeiramente “civilizado”.

Capítulo XVIII

  • Carlos regressa a Lisboa, após uma ausência de dez anos e passeia com Ega pela capital;
  • esse passeio revela que tudo permanece na mesma, principalmente as pessoas: ociosas, “moços tristes”, “mocidade pálida”(p 702);
  • voltam ao Ramalhete, agora abandonado, e embora reste uma sensação de falhanço, não há qualquer sentimento de remorso em Carlos.

Comentário:

  • tempo cronológico: elipse e prolepse( omissão de acontecimentos e consequente avanço no tempo, 10 anos);
  • tempo psicológico: “Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece estar metida a minha vida inteira!” (p 714);
  • espaço físico: Lisboa e os vários locais por onde vão passeando: o Loreto, o Chiado, Rua Nova do Almada, a Avenida, o Ramalhete;
  • espaço social: as pessoas que “povoam” esses espaços: “vadios, de sobrecasaca, politicando..”(p 697); “Uma gente feiíssima, encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada!...” (p 697);
  • espaço psicológico: o Ramalhete abandonado: “ Em baixo, o jardim[…] tinha a melancolia de um retiro esquecido, que já ninguém ama[…]”.(p 710);
  • as personagens reconhecem o falhanço: “- Falhámos a vida, menino!”(p 713). E, de acordo com o Realismo/Naturalismo, isso deve-se à ociosidade, ao tédio, à degradação moral, ao Romantismo, à religião, à educação. E ambos, Ega e Carlos, o “escritor” e o médico falhados, correm apenas para o que sempre tinham “corrido” na vida: para chegarem a tempo do jantar, isto é, a satisfação das suas necessidades primárias e básicas. Porque nunca tinham lutado “- Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder…”(p 716).