sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Estudar para o teste

Para ajudar a estudar, aqui estão várias questões que permitem rever o que é necessário saber para o teste da próxima semana. Têm de consultar o texto integral para responderem às perguntas e a localização dos parágrafos remete para o Manual, onde se encontra o Sermão.

I

“Antes porém que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões".

( Sermão de St António aos Peixes, IV Parte, Padre António Vieira)

1. Indique as finalidades das “repreensões” aos peixes.

2. Qual o grande defeito apontado aos peixes/homens?

2.1. Esse defeito geral vai sendo amplificado e desdobrado em outros com ele relacionados. Explicite-os.

3. Vieira exemplifica largamente o defeito. Mostre como, nos 2º e 4º parágrafos, a exemplificação vai consistir na inversão da alegoria do sermão.

4. No décimo parágrafo um outro defeito é apontado. Indique-o.

5. Procure sintetizar os argumentos utilizados por Vieira para persuadir o auditório a mudar a sua conduta de antropofagia social.

6. Reparou que este capítulo é mais combativo e sustentado em inúmeros recursos estilísticos. Dê exemplos e comente a expressividade de:

- anáforas
- simetrias
- gradações
- antíteses
- personificações
- interrogações retóricas.


II

"Descendo ao particular, direi agora, peixes, o que tenho contra alguns de vós".

(V Parte).

1. Os roncadores os pegadores, os voadores e o polvo são os peixes cujo comportamento é analisado em particular.

1.1. Refira os tipos humanos representados pelos três primeiros.

1.2. Interpretando a simbologia do discurso, caracterize cada um desses tipos humanos.

1.3. Indique a atitude que o orador assume face a cada um e o conselho que lhe dá.

2. Atente nos parágrafos 15 e 16 correspondentes ao polvo. O polvo, como configuração de um tipo humano, é caracterizado na sua aparência e na sua essência.

2.1. Que características possui na aparência?

2.2. Que traços são apontados ao nível da essência?

2.3. Que consequência advém, para os outros, da oposição entre aparência e essência?

2.4. Aponte exemplos e comente a expressividade do uso de:


- metáforas
- comparações.


III

“Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. (…)
Suposto, pois, que ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar; que se há-de fazer a este sal e que se há-de fazer a esta terra?”
(I Parte).


Identifique:

- tempos verbais predominantes
- pronomes pessoais e possessivos
- formas nominais (substantivos e adjectivos)
- conectores do discurso.

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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pedra ou Palavra?


A Mariana, tal como prometera, enviou, em mensagem, este belo excerto de um outro Sermão do Padre António Vieira, o Sermão do Espírito Santo.

Publico-o aqui para que todos leiam este pequeno texto: ele exprime bem a importância que o "nosso" pregador atribui à palavra, à construção da frase, ao estilo. O escritor deve ser sempre como um escultor (estatuário) que, pouco a pouco, vai modelando e aperfeiçoando a sua Obra de Arte.

O ESTATUÁRIO

«Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão, e começa a formar um homem, - primeiro, membro a membro, e depois feição por feição, até à mais miúda; ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos; aqui desprega, ali arruga, acolá recama; e fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar.»

Padre António Vieira, Sermão do Espírito Santo

(Fotografia: Pormenor da ponte Carlos, em Praga)
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sugestão de consulta on line






Sugiro que consultem este site, onde
encontram uma boa abordagem ao estudo do Sermão de Santo António aos Peixes.










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domingo, 19 de outubro de 2008

Infelizmente, sempre actual...

Porque há quem não esqueça que existem Valores de Liberdade, de Responsabilidade, de Justiça, de Respeito pelos Direitos Humanos, transcrevo um excerto de um poema de Jorge de Sena (1919-1978). Reparem como, em pleno século XX, as preocupações do Padre António Vieira se mantinham actuais! E ainda hoje...
Sempre?? receio que assim seja!!
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CARTA A MEUS FILHOS
sobre os fuzilamentos de Goya
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Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
(...)
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(sublinhados meus)
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domingo, 12 de outubro de 2008

A resposta do Padre António Vieira

No Sermão de Santo António aos Peixes, encontramos a resposta, o que se passava realmente no Brasil (só?), no tempo do Padre António Vieira:

"Porque os grandes que têm o mando das cidades e províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros(...).

(Sermão, IV Parte)
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E assim sentiriam os Portugueses?

(ficção entre um índio e um português)

“Brasil, 18 de Novembro de 1623.

O Sol ainda nascia e os meus homens já estavam de pé.
-Prontos para mais um dia de vitória?
-Sim! – respondiam eles cheios de garra e com uma estrondosa vontade de conquistar a correr-lhes nas veias.
Mais uma vez os indígenas ofereceram resistência, ameaçaram-nos com arcos de madeira e paus afiados, como se isso pudesse fazer frente às nossas armas de fogo. Ridículo. Será que não percebem que não têm a mínima hipótese? Nós fomos feitos para conquistar, eles para trabalhar. Ordenar é o nosso dever, cumprir é a obrigação deles.
Essa gente de que vos falo tem várias línguas, nem vale a pena esforçarmo-nos para as entender. Um disparo funciona muito melhor do que qualquer outra palavra. Eles até são bons trabalhadores, fortes, com espírito de equipa e uma grande organização em comunidade. Ainda vos digo mais, meu povo, estes indígenas, quando têm bons dentes, são vendidos, o que nos favorece bastante as trocas comerciais.
Através deles já conseguimos obter muito cacau, pimenta, cravo, baunilha, e outras especiarias que nos tornam mais ricos. O problema são os franceses, têm invadido pelo litoral, mas os índios também são bons para proteger.
À noite, eu e a tropa que comando reunimo-nos e vemos o balanço do dia. Há cada vez mais indígenas a morrer, eles não resistem às nossas doenças, não percebo. A extracção de iguarias foi boa, nem tudo vai mal.
(...)

Às vezes um sentimento de culpa invade-me a cabeça, ou direi a alma? Não que sinta remorsos, quer dizer, talvez sinta e não queira admitir. Bem, não interessa. Tenho de me concentrar nos meus objectivos, naquilo que mudará o rumo da pátria.
(...)

Não interessa quantas pessoas irei matar,
Ou quantas famílias irei destruir.
Eu fui feito para lutar,
O meu rumo é descobrir.”


(Sublinhado meu)

Trabalho da Maria João, 11ºE (conclusão).
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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Assim sentiriam os Índios do tempo do Padre António Vieira?

O contacto do mundo “civilizado” com o “outro” mundo
(ficção entre um índio e um português)



“Brasil, 1623.

Não sei bem por onde começar, morreu mais um filho meu e como chefe da tribo que sou não posso mostrar a minha parte fraca. Já não é a primeira morte com que tenho que lidar, aqueles brancos vindos da terra maldita continuam a matar a minha gente. Invoquei todos os espíritos que o meu avô um dia me ensinou, tentei resolver todos os problemas entre a comunidade, mas nada parece resultar.
Isto não era assim, não havia necessidade de ser assim. Porquê deus Sol? Porquê mãe Terra? Sempre te adoramos, sempre colhemos o teu fruto e dele fizemos nosso alimento. Várias foram as danças e as cantigas que fizemos para honrar os nossos deuses, e para quê? Não, não vou deixar que isto abale a minha fé, é das poucas coisas que me restam.
No início tudo era diferente, vieram uns brancos e foram bons connosco. Hoje percebo que tudo não passava de uma farsa. Usaram-nos para defender a costa de outros brancos que eles não gostavam (franceses), usaram-nos para extrair riquezas que somente eles usufruíam (pau-brasil). Mas isso nem foi o pior. Depois chegaram mais brancos, mais e cada vez mais. Ocuparam nossas terras, levaram nossas mulheres. Trouxeram maldições que acabaram com a nossa aldeia, nem os rituais nem a nossa magia conseguiram salvar os meus familiares. Somos cada vez mais escravos daquela gente horrível, sentimo-nos cada vez mais fracos.
Agora pergunto: para quê? Não plantamos guerra, não sabemos sequer a língua deles! Não precisamos de ser ricos, nós caçamos o que comemos, nossa loiça é feita da mais simples argila, nossas armas de madeira pura são. Digam-me minha gente, digam-me seus brancos cheios de maldade, não poderá haver um consenso? Não poderão vós partir para vossas terras e deixar as minhas em paz?
Vou voltar à fogueira e cantar mais um pouco na esperança de que tudo vai melhorar e que amanhã os brancos já terão abandonado a aldeia.


Obrigado mãe terra pelo bem que nos dás,
Nunca o desperdiçaremos
A tua vida é a nossa paz.”
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(Sublinhado meu)

Trabalho da Maria João, 11ºE, 1ª Parte
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terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Barroco


Vários alunos escolheram, como tema de trabalho de pesquisa, o Barroco.

E todos chegaram à mesma conclusão, inevitável!:


  • um estilo “emocional”, que pretendia deslumbrar e pasmar o observador;

  • a exuberância no que tocava à decoração, profusa e espectacular, a teatralidade;

  • na pintura, o contraste claro/ escuro, pretendendo transmitir uma sensação de profundidade.

Narciso, de Caravaggio
(imagem da web)


O Homem de Seiscentos vive num estado de tensão e desequilíbrio, do qual tenta evadir-se pelo culto exagerado da forma, sobrecarregando a poesia de figuras, como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria. E o rebuscamento é o reflexo do conflito entre o terreno e o celestial, o Homem e Deus, o pecado e o perdão, o material e o espiritual.


Reparem neste excerto de um poema de Jerónimo Baía, um poeta do Barroco, exemplo dessa tensão entre o religioso e o profano, onde a exaltação dos sentidos se faz através da evocação do Menino Jesus:

Ao Menino Deus em metáfora de doce

- Quem quer fruta doce?
- Mostre lá! Que é isso?
- É doce coberto;
É manjar divino.


- Vejamos o doce;
Compraremos todo,
Se for todo rico.


- Venha ao portal logo;
Verá que não minto,
Pois de várias sortes
É doce infinito.


- Desculpa, minha alma.
Mas ah! Que diviso?!
Envolto em mantilhas,
Um Infante lindo!


- Pois de que se admira,
Quando este Menino
É doce coberto,
É manjar divino?


(...)
Nota: Estas notas foram elaboradas, recorrendo aos trabalhos apresentados pelos alunos.
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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Dia Internacional da Música



Hoje, ao longo da aula do 11º C, tivemos, como música de fundo, as Quatro Estações de Vivaldi que o Lúcio tinha no Mp3. Como Vivaldi é um compositor do Barroco, da mesma época do Padre António Vieira, coloco aqui a peça musical, retirada do youtube, para que os restantes alunos, que hoje não tiveram aula comigo, possam também usufruir...

Seleccionei o "Outono", para saudar este Outono!

Vivaldi, "Outono" de As Quatro Estações

Ah!! e foi a Francisca que desencadeou isto tudo!! ela é que lembrou que era o Dia Internacional da Música!

O poder das palavras

Iremos começar com a leitura do Sermão de Santo António aos Peixes do Padre António Vieira, que é um dos melhores prosadores da língua portuguesa. E, a propósito, lembrei-me deste lindíssimo poema de Eugénio de Andrade, que remete, precisamente, para a importância da Palavra:

As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade
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