quarta-feira, 29 de abril de 2009

Os Maias, conclusão: Capítulos XIII a XVIII

Capítulo XIII

  • Carlos leva Maria Eduarda à «Toca», a casa dos Olivais;
  • descrição da decoração do quarto;
  • ruptura de Carlos com a Condessa de Gouvarinho.

Comentário:

  • alguns pormenores da decoração do espaço são presságios: “[…]os amores de Vénus e Marte[…]” (p 433); “[…] o leito de dossel[…] como erguido para as voluptuosidades grandiosas de uma paixão trágica[…]” (p 434); “[…] uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu sangue, dentro de um prato de cobre.” (p 434); “[…] uma enorme coruja empalhada[…]” (p 434);
  • o espaço físico é, assim, transformado em espaço psicológico: “Mas Maria Eduarda não gostou destes amarelos excessivos.[…] achava impossível ter ali sonhos suaves.” (p 434).

Capítulo XIV

  • Maria Eduarda vai ao Ramalhete;
  • Castro Gomes, seu suposto marido, vai ter com Carlos, mostrando-lhe uma carta anónima, mas avisando-o de que não são casados.

Comentário:

  • aparece mais um presságio: Maria Eduarda, quando vê o retrato do pai do Carlos, comenta que o acha parecido com sua mãe.

Capítulo XV

  • Maria Eduarda conta a Carlos a sua infância e juventude e, perante a revelação de um passado tão amargo, Carlos decide casar com ela;
  • um jornal, a “Corneta do Diabo”, publica um artigo anónimo onde Carlos é ultrajado numa linguagem quase obscena;
  • Ega suborna o director do jornal, Palma Cavalão, que lhe revela que o autor do artigo foi o Dâmaso;
  • Ega obriga-o a escrever uma carta onde ele se confessa um alcoólico inveterado, vítima de um vício hereditário; deste modo, Ega aproveita também para se vingar do facto de Dâmaso lhe ter “roubado” a Raquel Cohen.

Comentário:

  • analepse: recuo ao passado de Maria Eduarda;
  • crítica ao “jornalismo” de pasquim e a quem se deixa subornar para publicar seja o que for;
  • crítica à cobardia de Dâmaso;
  • influência do Realismo/Naturalismo, quando se refere à hereditariedade (o suposto alcoolismo de Dâmaso).

Capítulo XVI

  • episódio do Sarau do Trindade, onde, mais uma vez, desfilam as várias personagens-tipo;
  • o Sr. Guimarães chega de Paris e revela a Ega que Maria Eduarda e Carlos são irmãos, o que pode comprovar com os documentos que guarda num cofre.

Comentário:

  • Crítica social: todos discutem desordenadamente e todos se querem mostrar, mas a ignorância e o provincianismo vêm ao de cima, quando uma das senhoras nem sequer sabe quem foi Beethoven e fala da “Sonata Pateta”(Patética).
  • Este é um dos capítulos mais importantes da intriga, porque nele se encontra o momento da agnórise, o reconhecimento (influência da tragédia grega) e que já se fizera “anunciar” por vários presságios ao longo da narrativa.
  • O tema é o incesto, a relação tabu e proibida entre dois irmãos, vítimas de circunstâncias que desconheciam, vítimas inocentes dos actos dos progenitores (neste caso, a mãe, Maria Monforte).
  • Os dois níveis da acção aqui “cruzam-se”, porque o incesto é motivado por causas que são também alvo da crítica social nos romances Realistas/Naturalistas: o comportamento adúltero das mulheres, a influência negativa do Romantismo.


Capítulo XVII

  • é revelada a Carlos a verdade;
  • Carlos, por sua vez, conta também ao avô;
  • vai a casa de Maria e dorme com ela, mesmo já sabendo que é sua irmã;
  • Afonso morre;
  • os irmãos, inevitavelmente separam-se e partem para o estrangeiro.

Comentário:

  • É o momento da katastrophé( catástrofe), quando as consequências terríveis se abatem: Afonso, aquele que resistira a tantos desgostos de família, sucumbe.
  • É ele, verdadeiramente, a vítima inocente.
  • Morre a personagem que se mantivera, ao longo de toda a vida (e narrativa), coerente, genuína, verdadeiramente “civilizado”.

Capítulo XVIII

  • Carlos regressa a Lisboa, após uma ausência de dez anos e passeia com Ega pela capital;
  • esse passeio revela que tudo permanece na mesma, principalmente as pessoas: ociosas, “moços tristes”, “mocidade pálida”(p 702);
  • voltam ao Ramalhete, agora abandonado, e embora reste uma sensação de falhanço, não há qualquer sentimento de remorso em Carlos.

Comentário:

  • tempo cronológico: elipse e prolepse( omissão de acontecimentos e consequente avanço no tempo, 10 anos);
  • tempo psicológico: “Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece estar metida a minha vida inteira!” (p 714);
  • espaço físico: Lisboa e os vários locais por onde vão passeando: o Loreto, o Chiado, Rua Nova do Almada, a Avenida, o Ramalhete;
  • espaço social: as pessoas que “povoam” esses espaços: “vadios, de sobrecasaca, politicando..”(p 697); “Uma gente feiíssima, encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada!...” (p 697);
  • espaço psicológico: o Ramalhete abandonado: “ Em baixo, o jardim[…] tinha a melancolia de um retiro esquecido, que já ninguém ama[…]”.(p 710);
  • as personagens reconhecem o falhanço: “- Falhámos a vida, menino!”(p 713). E, de acordo com o Realismo/Naturalismo, isso deve-se à ociosidade, ao tédio, à degradação moral, ao Romantismo, à religião, à educação. E ambos, Ega e Carlos, o “escritor” e o médico falhados, correm apenas para o que sempre tinham “corrido” na vida: para chegarem a tempo do jantar, isto é, a satisfação das suas necessidades primárias e básicas. Porque nunca tinham lutado “- Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder…”(p 716).

terça-feira, 28 de abril de 2009

Os Maias: Capítulos VII a XII


VII Capítulo

• Dâmaso Salcede, personagem tipo, que representa o novo-rico, consegue apresentar-se a Carlos, mas também tornar-se indesejável, devido ao seu comportamento exibicionista;
• a Condessa de Gouvarinho visita Carlos no consultório;
• informações dos amigos a Carlos sobre a misteriosa mulher que tanto o impressionara.

Comentário:


• Capítulo que remete, sobretudo, para a crítica social.

VIII Capítulo

• Carlos e Cruges vão a Sintra à procura da “Mulher”;
• encontram Eusèbiozinho, já viúvo, com um amigo e duas prostitutas espanholas;
• Carlos tem notícias dessa mulher, casada, e de quem o Dâmaso já se tornara muito amigo.

Comentário:

• crítica ao comportamento previsível de Eusèbiozinho: a educação religiosa, “beata”, desencadeia atitudes de hipocrisia e de degradação moral.

IX Capítulo

• alguns pormenores que se integram no domínio da crítica social, sobretudo o comportamento das mulheres.

Comentário:

• mais uma vez, a crítica às mulheres da alta burguesia lisboeta.

X Capítulo

• destaca-se o episódio da corrida de cavalos e a atitude dos portugueses que frequentam esse tipo de evento social;
• tal como no jantar do Hotel Central, tudo termina com uma desordem pouco adequada à situação.

Comentário:

• crítica ao modo como as pessoas se apresentavam, sobretudo as mulheres, com “vestidos de missa”(p 316), uma vez que não estavam habituadas a este género de evento, tipicamente inglês: “um canteirinho de camélias meladas”(p 317);
• Afonso da Maia, na sua posição distanciada, já comentara que “o verdadeiro patriotismo[...] seria, em lugar de corridas, fazer uma boa tourada.”(p 308);
• crítica aos portugueses que têm o hábito de imitar o que era estrangeiro, mas, como não era genuíno, “desmanchando a linha postiça de civilização e a atitude forçada de decoro…” (p 325);
• caracterização do espaço social.

Capítulo XI

• Carlos, pela primeira vez, fala com "a tal" mulher, Maria Eduarda, passa a visitá-la com assiduidade e trocam confidências;
• percebe que Dâmaso, supostamente, como já lhe tinham dito, se tinha tornado, também, íntimo da casa.

Comentário:

• a semelhança dos nomes, Carlos Eduardo e Maria Eduarda: “Quem sabe se não pressagiava a concordância dos seus destinos!” (p 346);
• Maria repudia Dâmaso, o que explica comportamentos posteriores.

Capítulo XII

• Carlos e Maria Eduarda tornam-se amantes;
• Carlos aluga a Craft a casa dos Olivais, "A Toca", onde poderão viver, discretamente, a sua paixão.

Comentário:

• momento da intriga em que as personagens desafiam o Destino, hybris, ignorando, como nas tragédias, quem são e as consequências futuras.


(Notas: sublinhados meus nas citações; a paginação remete para a Edição de Os Livros do Brasil.)
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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Os Maias, Capítulo VI



VI Capítulo



  • jantar de homenagem a Cohen (o banqueiro judeu) no Hotel Central;
  • Carlos cruza-se com uma bela desconhecida quando entra no Hotel;
  • nesse jantar revelam-se outras personagens “tipo”: Alencar, poeta Ultra-Romântico, que tinha sido amigo dos pais de Carlos; o Craft, um inglês que há muito vivia em Portugal; Dâmaso Salcede, o novo-rico;
  • o jantar termina com uma briga;
  • já em casa, Carlos recorda o passado, como ficara a conhecer a história da mãe e do pai e adormece, evocando a visão da mulher que tanto o tinha impressionado. ......

.................................................................................................................................... Hotel Central

Comentário:

Este é um dos Capítulos mais importantes, porque nele se cruzam os dois níveis da obra: o da intriga e o da crónica de costumes.

A intriga:

  • presságios: Ega, em conversa com Carlos (antes do jantar) diz-lhe que ele há-de vir a “acabar desgraçadamente[…] numa tragédia infernal”( p 152);
  • a mulher com quem Carlos se cruza é como uma “deusa” envolta em mistério (p 157);
  • no final do Capítulo, o sonho de Carlos, após ter recordado o seu passado familiar, remete para esta mulher, sonho premonitório.


A crónica de costumes:

  • o comportamento e a linguagem pouco adequados da alta burguesia lisboeta que quer parecer muito civilizada e cosmopolita;
  • a oposição entre o Ultra-Romantismo retrógrado(Alencar) e o Realismo/Naturalismo(Ega), ambos exagerados.
  • espaço social: o Hotel Central, onde desfila esta galeria de tipos sociais.

( A foto foi enviada pelo João Vale do site: http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/portugues/portugues_trabalhos/osmaiasjantarhotelcentral.htm)

domingo, 26 de abril de 2009

Fomos ao teatro...



...no último dia de representação de Os Maias, no Teatro da Trindade.


(O meu agradecimento ao professor Joaquim Melro, que nos acompanhou.)




quinta-feira, 23 de abril de 2009

No Dia Mundial do Livro...


....o contributo de duas das minhas alunas.

Estes textos encontram-se também publicados em
Arteziletras e expostos no Centro de Recursos.

O Livro

"Era uma vez...": também assim começou este livro. As personagens são poucas, no entanto as descrições preenchem linhas: "E naquela casa de férias tudo libertava um aroma doce: as janelas abertas deixavam entrar o sol doirado, o sussurro das plantas deixava adivinhar a brisa fresca presente no prado e o tom meigo com que eram ditas todas as palavras enaltecia o espírito."

Várias foram as vezes em que repeti a leitura de frases só para as poder absorver em mim e saboreá-las com o mesmo prazer com que foram escritas. Não tive em momento algum pressa para terminar a leitura e todas as páginas foram minutos de sabedoria que me acolheram dias e noites. Hoje terminou a leitura, estranhamente mas terminou. Consigo ver que páginas foram arrancadas e não sei ao certo porquê nem por quem. Reconheço apenas a última frase presente: "O relógio do tempo parou por longos instantes e nem o teu brilho conseguiu curar a minha cegueira."

Da Maria João J., 11º E



Cartas sobre livros

Olho-te cá de baixo, tentando alcançar-te com o olhar. Inspiro-me numa bailarina em pontas, para chegar a ti e, num movimento preso, estico o braço e levanto-o, procuro agarrar-te enquanto passo as mãos pela prateleira, pois reconheço-te pelo toque. Sinto as tuas marcas de nascença que, no fundo, dizem, numa imagem, aquilo que tu és, lembra-te que não te deves envergonhar disso, não deixes que os outros as escondam.

Tenho-te agora nas minhas mãos, enquanto leio os pensamentos de outros que sigo com o dedo, fazendo-me perder. O teu cheiro espalha-se enquanto te folheio, e faço passar as páginas rapidamente, entranha-se na roupa, e leva-me para esse mundo estranho. Terras que apenas vi em ti, pessoas que não hei-de conhecer de outra forma, que, de alguma maneira, tu mostras e fazes-me ter a certeza daquilo que quero. Ainda que seja apenas uma visão, um monólogo, e eu não me tenha levantado do sofá da sala.

Da Catarina , 11ºB


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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Recomeçando: Os Maias, Capítulos II a V






II Capítulo

  • casamento de Pedro e Maria Monforte (“felicidade de novela”);

  • os dois filhos, Maria Eduarda e Carlos Eduardo;

  • fuga de Maria com o príncipe italiano, levando consigo a filha;

  • Pedro fica com o filho, regressa a casa do pai e suicida-se.

Comentário:

  • a crítica ao comportamento das mulheres: Maria foge, devido à leitura de romances românticos, que deturpavam a visão que as mulheres tinham da realidade;

  • até o nome do filho, Carlos Eduardo, tinha sido escolhido por ser o de um herói de um romance, com uma vida de "aventuras e desgraças" (presságio);

  • Pedro suicida-se, como era de esperar, devido ao seu temperamento neurótico (hereditariedade) e educação tradicional, “beata”.
III Capítulo

  • Afonso retira-se para Santa Olávia com o neto e, aí, tem a preocupação de lhe dar uma educação à inglesa: ar livre, ginástica, inglês (“mente sã em corpo são”);

  • em oposição, a educação de Eusèbiozinho, tradicionalmente portuguesa e “beata”.
Comentário:

  • a oposição entre os dois tipos de educação revela, mais uma vez, a crítica à educação tradicionalmente portuguesa.

IV Capítulo

  • Carlos vai estudar para Coimbra, forma-se em Medicina;

  • torna-se amigo de João da Ega, o "escritor", personagem que representa o Realismo/Naturalismo;

  • quando acaba o curso, viaja pela Europa e o avô já o esperava em Lisboa, no Ramalhete;
    o consultório é mobilado luxuosamente;

  • Ega prepara o seu grande livro, Memórias de Um Átomo.
Comentário:

  • termina a analepse que se iniciara no I Capítulo e o tempo cronológico volta a ser 1875.

  • alguns pormenores são já significativos em termos de crítica e de caracterização da personagem: o luxo excessivo do consultório de Carlos não se coaduna com o exercício da Medicina;

  • Ega começa a escrever o livro de que se falava desde os seus tempos de estudante (será que alguma vez vai terminar essa “Bíblia”?).
V Capítulo

  • O Ramalhete e a vida social da família Maia e da alta burguesia de Lisboa: espaço social;

  • apresentação de várias personagens “tipo”: o Cruges, pianista falhado; Steinbroken, o embaixador finlandês; a Raquel Cohen, amante do Ega; a Condessa de Gouvarinho que Ega “recomenda” a Carlos.
Comentário:

  • a crítica social torna-se mais corrosiva, em particular, no que diz respeito ao comportamento das mulheres (o adultério);

  • as causas são: a leitura de romances românticos, a ociosidade e consequente tédio.


Imagem retirada do blogue: http://themaias.wordpress.com/category/figurino/page/2/,
por indicação do aluno João Vale.