As Palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
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6 comentários:
Gosto bastante de Eugénio de Andrade e este é mais um dos seus lindísssimos poemas.
É de facto bastante interessante o que ele comenta acerca das palavras, seja como for, palavras serão sempre, e nada mais, que palavras.
Quem as poderá traduzir em acções? (:
Maria João, nº 17, 11º E.
Neste poema, Eugénio de Andrade mostra-nos as várias facetas da palavra. As palavras de consolo, de bem, de acusação e de traição. Metafóricamente, dá-nos imagens dessas mesmas palavras referindo-as como "cristal", "orvalho apenas", "incêndio" e "punhal". Através das palavras transmitimos sentimentos, visões, ideais. Essas palavras "secretas, (...) cheias de memória" que nos lembram alguém ou algum acontecimento especial ou fora da rotina. A leveza das palavras no bem dizer, no consolo, transpondo portas para um sentimento mais forte ou de maior proximidade. As palavras na sua essência, pureza e crueldade ajudam-nos a mostrar-nos aos outros.
As palavras podem ter o poder de nos fazer visualizar certas acções!! como foi o caso do texto que escreveu...
E para a Carolina,uma "palavrinha": gostei muito do seu comentário!!
É de facto um lindo poema. Gosto principalmente de como Eugénio de Andrade conseguiu transmitir o que são palavras para um meio mais poético. : )Tatiana Portugal nº24 11ºE
Há palavras que se "saboreiam"...
Um bom fim de semana, Tatiana!
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