quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Assim sentiriam os Índios do tempo do Padre António Vieira?

O contacto do mundo “civilizado” com o “outro” mundo
(ficção entre um índio e um português)



“Brasil, 1623.

Não sei bem por onde começar, morreu mais um filho meu e como chefe da tribo que sou não posso mostrar a minha parte fraca. Já não é a primeira morte com que tenho que lidar, aqueles brancos vindos da terra maldita continuam a matar a minha gente. Invoquei todos os espíritos que o meu avô um dia me ensinou, tentei resolver todos os problemas entre a comunidade, mas nada parece resultar.
Isto não era assim, não havia necessidade de ser assim. Porquê deus Sol? Porquê mãe Terra? Sempre te adoramos, sempre colhemos o teu fruto e dele fizemos nosso alimento. Várias foram as danças e as cantigas que fizemos para honrar os nossos deuses, e para quê? Não, não vou deixar que isto abale a minha fé, é das poucas coisas que me restam.
No início tudo era diferente, vieram uns brancos e foram bons connosco. Hoje percebo que tudo não passava de uma farsa. Usaram-nos para defender a costa de outros brancos que eles não gostavam (franceses), usaram-nos para extrair riquezas que somente eles usufruíam (pau-brasil). Mas isso nem foi o pior. Depois chegaram mais brancos, mais e cada vez mais. Ocuparam nossas terras, levaram nossas mulheres. Trouxeram maldições que acabaram com a nossa aldeia, nem os rituais nem a nossa magia conseguiram salvar os meus familiares. Somos cada vez mais escravos daquela gente horrível, sentimo-nos cada vez mais fracos.
Agora pergunto: para quê? Não plantamos guerra, não sabemos sequer a língua deles! Não precisamos de ser ricos, nós caçamos o que comemos, nossa loiça é feita da mais simples argila, nossas armas de madeira pura são. Digam-me minha gente, digam-me seus brancos cheios de maldade, não poderá haver um consenso? Não poderão vós partir para vossas terras e deixar as minhas em paz?
Vou voltar à fogueira e cantar mais um pouco na esperança de que tudo vai melhorar e que amanhã os brancos já terão abandonado a aldeia.


Obrigado mãe terra pelo bem que nos dás,
Nunca o desperdiçaremos
A tua vida é a nossa paz.”
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(Sublinhado meu)

Trabalho da Maria João, 11ºE, 1ª Parte
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4 comentários:

Anónimo disse...

Este trabalho está um máximo, parabéns Maria, atravéz dele consegui perceber a verdadeira realidade da expansão portuguesa no Brasil, onde nem tudo foi um mar de rosas, principalmente para os SERES HUMANOS do novo mundo. Foi isto que o suposto "mundo civilizado" não conseguiu ver naqueles pobres HOMENS, servindo-se deles como meros objectos de usar e deitar fora.

João 11ºB

MC disse...

E falta a 2ª parte do trabalho, João, que vou publicar amanhã!

Anónimo disse...

É triste verificar que, nos dias de hoje (em pleno século XXI), passados tantos séculos, ainda se sucede o mesmo: o poder dos mais ricos sobre os mais pobres...
Se todos os cidadãos se respeitassem uns aos outros, aceitassem as crenças de uns e de outros, se soubessem dividir o território e a economia justamente pelo Mundo, não haveriam nem metade dos tão tristes e abaladores conflitos que existem!

O futuro deste planeta e desta civilização está pura e unicamente nas nossas mãos!

O texto está muito bom e original, parabéns! :)

MC disse...

Leonor, é verdade! Não podemos desistir!!