terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pedra ou Palavra?


A Mariana, tal como prometera, enviou, em mensagem, este belo excerto de um outro Sermão do Padre António Vieira, o Sermão do Espírito Santo.

Publico-o aqui para que todos leiam este pequeno texto: ele exprime bem a importância que o "nosso" pregador atribui à palavra, à construção da frase, ao estilo. O escritor deve ser sempre como um escultor (estatuário) que, pouco a pouco, vai modelando e aperfeiçoando a sua Obra de Arte.

O ESTATUÁRIO

«Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão, e começa a formar um homem, - primeiro, membro a membro, e depois feição por feição, até à mais miúda; ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos; aqui desprega, ali arruga, acolá recama; e fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar.»

Padre António Vieira, Sermão do Espírito Santo

(Fotografia: Pormenor da ponte Carlos, em Praga)
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